Jejum: Uma disciplina esquecida

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Abster-se totalmente de alimentos e água ou somente de alimentos por determinado período com o intuito de se humilhar diante de Deus e experimentar maior intimidade com ele era um costume entre os israelitas e cristãos da igreja primitiva descritos no Antigo e Novo Testamentos. Apesar de não possuirmos mais detalhes quanto à origem do jejum, podemos concluir que ele possuía grande relevância para os povos mais antigos pela frequência com que era realizado e a sua expressividade ao fazer parte de inúmeras religiões.

Embora não haja uma ordem imperativa de Jesus para que sua noiva, a Igreja, realize o jejum, de certa forma, o Senhor nos encoraja a adotá-lo frequentemente.

Primeiro, porque iniciou seu ministério dessa maneira, num momento crítico, quando foi tentado pelo diabo durante quarenta dias e quarenta noites (Mt 4.1-11). Aliás, muitos homens e mulheres de Deus fizeram o mesmo quando estavam diante de um grande embate. Davi usou essa ferramenta inúmeras vezes. Destaca-se aqui apenas uma delas, quando seu filho estava à beira da morte (2Sm 12.16). A rainha Ester convocou solenemente todo o povo judeu a jejuar durante três dias, e também fez o mesmo, a fim de conseguir parecer favorável junto ao rei Assuero e assim reverter a sentença de morte que pairava sobre eles (Et 4.16).

Segundo, durante o seu sermão no monte, Jesus incluiu o ensino sobre o jejum, e para isso utilizou a expressão “quando”, e não “se” jejuardes. Ou seja, ele pressupunha que era algo habitual entre os seus discípulos.

Terceiro, o Mestre garante que haverá uma recompensa do Eterno para aqueles que assim procederem, desde que o façam por motivações corretas (Mt 6.16-18). O Senhor repreende contundentemente o seu povo por meio do profeta Isaías, porque suas razões estavam totalmente equivocadas ao fazerem jejum, tornando o ato ineficaz e abominável, por causa da hipocrisia que o acompanhava. Esse episódio, todavia, não pode se tornar um vetor desencorajador para a igreja contemporânea (Is 58).

No Antigo Testamento, durante o período das leis mosaicas, o povo era obrigado a jejuar pelo menos uma vez por ano, no Dia da Expiação, momento em que afligiam suas almas, humilhando-se e lamentando-se pelos seus pecados (Lv 16.29, 23.26-32). Em Cristo Jesus, essa obrigatoriedade não existe mais, isto é, não está pecando aquele que não possui esse hábito. Não obstante, quem não jejua também correrá o risco de não alcançar a plenitude em sua vida cristã. Os discípulos, certa feita, não conseguiram expulsar um espírito imundo de um jovem, e Jesus, ao ser questionado por eles sobre o porquê de seu fracasso, respondeu-lhes que aquela casta somente seria expelida através de oração e jejum (Mt 17.21).

O ato de jejuar deve partir de um coração contrito, consciente do quanto deve depender do Pai, de uma alma sedenta não apenas das bênçãos, mas, sobretudo, do Deus da bênção, de alguém que deseja ir além e alcançar níveis mais profundos de espiritualidade e intimidade com Deus, de uma pessoa disposta a abdicar do bom (o pão físico) em prol do mais excelente.

Por Juvenal Oliveira Netto
Colunista deste Portal

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