Cargos ou cargas?

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Foto: Reprodução.

“Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo” (Gálatas 6.2)

Temos a tendência natural para cargos. E como a temos! Podemos até lutar por eles. Cargos geralmente trazem status, posição e destaque. Como gostamos dessas coisas! O grande problema do homem é conquistar o seu espaço mesmo que isto implique em passar por cima dos outros, fazendo dos ombros do próximo um degrau para a sua ascensão. Apreciamos ser admirados e ovacionados. O nosso ego gosta do topo, do pódio, de estar na crista da onda. É notório que o coração do homem busca glória, reconhecimento, ser famoso e poderoso. Há líderes que sacrificam a família por causa de cargos denominacionais. Confesso que tenho pena dessa gente tão apequenada. Gente de visão estreita. Pessoas que são sombras na vida do próximo, não os deixando crescer.

Nas igrejas, associações, ordens, convenções os cargos são disputados. Há indicações políticas, conchavos. Há, muitas vezes, manipulações, politicagem e atitudes e ações maquiavélicas. Soube que um irmão nosso, executivo de uma das nossas juntas, estava muito doente entre a vida e a morte, e havia elementos da organização buscando apoio para substituí-lo e até já havia candidatos. Não queriam levar a sua carga, mas o seu cargo. Isto me causa asco e é, no mínimo, lamentável e indigno quando se trata de líderes que conhecem o Senhor. É triste ver tanta tietagem por parte de alguns líderes megalomaníacos. Apreciam as fotos com os bajuladores, que tentam usufruir do poder na denominação. Continuo nutrindo pena dessa gente tão obtusa. Que vivem nos porões da maldade.

Os cargos podem exaltar o homem. Alimentam o seu ego, principalmente quando se usa para o seu próprio benefício, sua projeção. Também para se autossustentarem e beneficiarem os seus apadrinhados e bajuladores de plantão. Os cargos são atraentes, pois têm o brilho da eminência, do poder e pódio. São muito valorizados no mercado do poder. Fazem diferença no trato. Traz como resultado, se não tivermos cuidado, a acepção de pessoas, tão condenada pelo Senhor na Sua Palavra (Tiago 2.1,9). Os cargos podem nos insensibilizar, vulgarizar e futilizar. Por outro lado, as cargas nos fazem mais sensíveis aos que sofrem.

Os cargos podem trazer apego ao ter em detrimento do ser. Eles, muitas vezes, afastam os seus possuidores da humildade e da dependência de Deus. Por causa de cargos, as pessoas podem agredir umas às outras. Lá no mundo há até morte por disputa de cargos. Nesta reflexão, gostaria de destacar mais as cargas do que os cargos. Confesso que estes não são o meu forte por mais que eu tenha uma tendência natural para eles.

Na língua grega, baros, quer dizer “opressão, peso, preocupação”.  Não são palavras populares. Não atraem. Não trazem sucesso. Não alimentam o ego, mas o condenam à morte. Porque as cargas desencadeiam um processo de definhamento do ego. Processo de inanição, pois passamos a pensar no próximo e em ajudá-lo a levar sua carga. O Senhor deseja que levemos as cargas uns dos outros. Que ajudemos uns aos outros com o amor de Cristo. Quando levamos as cargas de um irmão estamos cumprindo a lei de Cristo, ou seja, o novo mandamento. “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (João 13.34). É a lei do Senhor da Igreja, esta que é organismo e organização. Cristo é o nosso modelo de carregador amoroso. Ele levou sobre si as nossas culpas, os nossos pecados como uma grande carga (Isaías 53.4,5).

Então, “se um irmão cair no pecado, outro que ‘anda no Espírito’ (Gálatas 5.16; 22-26) tem a responsabilidade de corrigi-lo, evitando que aquele esteja sobrecarregado pelo erro (6.1; Tiago 5.19,20; Judas 22,23). Ajudando o outro a superar o pecado mostra o amor que cumpre tanto a lei de Moisés como a de Cristo” (Gálatas 6.2; 5.14). Como é pedagógico quando ajudamos o nosso irmão na solução de um problema; nos traumas e nas amputações da vida; quando está desempregado ou doente!

Precisamos levar as cargas uns dos outros. Elas só são levadas com o amor que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (1 Coríntios 13.4-8). Cargas enfraquecem ego e fortalecem o espírito. As emoções ficam equilibradas. A sensibilidade espiritual aumenta. Só pode levá-las quem está comprometido com Jesus. Quem está nesta condição ama o próximo, porque foi salvo pelo evangelho da graça. Cargas são para o cristão autêntico, genuíno, que está morto para as suas preferências, para os seus interesses (Gálatas 2.20). Cargas são para o discípulo de Cristo, que toma a sua cruz e O segue. Cargas são para as pessoas que amam o seu Senhor. São para os que amam a Igreja. Que fazem toda a diferença.

Levar cargas não cansa porque o trabalho é feito em Cristo Jesus. Nele nós descansamos. Por isso, cargas são para aqueles que aspiram, oram e trabalham para a expansão do Reino de Deus em toda a terra. Levadas com amor e abnegação exaltam a Pessoa de Cristo e abençoam o nosso irmão. Ninguém levou tantas cargas como o Mestre! Ele as suportou porque amava o Pai e nos amava. Foi obediente ao Pai. Que Jesus maravilhoso, majestoso e amoroso temos!

Cargas são para pessoas com a fé de Abraão; com a persistência de Jacó; com a humildade e a pureza de José; com a submissão e a mansidão de Moisés; com o coração amoroso de Davi; com a sabedoria de Salomão; com a sensibilidade de Jeremias; com a firmeza de Isaias; com a intrepidez e ousadia de João Batista e com autoridade inquestionável do Senhor Jesus, que entregou a Sua vida por nós na cruz. .

As cargas fortalecem o crente. Ajudam o crente a crescer na graça e conhecimento de Cristo. Recebidas por homens e mulheres que um dia morreram para si mesmos e para o mundo, e passaram a viver para Cristo, o Senhor, Aquele que levou o peso terrível por todos nós na cruz do Calvário. Aquele que renunciou à glória dos céus para assumir a nossa vergonha. Que não estava atrás de cargos, mas de nossas cargas. Aquele que viveu e ensinou a coerência da cruz, a coerência do amor incondicional.

Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob
Colunista deste Portal  

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