No Evangelho de Mateus encontramos uma cena em que um grupo de religiosos pergunta a Jesus: qual é o maior mandamento? (Mt 22.36, NVI), e a resposta de Jesus é surpreendente!
Ele afirma o que aqueles que perguntaram já sabiam: “‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento” (Mt 22.37-38). Mas em seguida afirma uma verdade que deixa seus interlocutores estarrecidos: “E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’” (Mt 22.39).
E por que eles ficaram estarrecidos? Por causa da palavra semelhante, ou seja, Jesus afirma que amar seu próximo é tão importante quanto amar a Deus. Mais tarde João vai confirmar isso em sua carta afirmando que “quem não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4.20).
Nesse sentido é difícil entender quando uma pessoa cristã afirma: “Eu não amo mais meu cônjuge”. Salvo dentro de relações claramente abusivas, entendo que essa declaração é quase sinônimo de dizer: “Meu amor por Deus esfriou”.
E há um bom paralelo entre o amor que sentimos por Deus e o amor que sentimos por nosso cônjuge. Quando conhecemos a Deus, geralmente, ficamos empolgados; nosso coração arde e desejamos muito buscá-lo; queremos conhecê-lo mais e mais e contar para as pessoas ao nosso redor a diferença que ele faz em nossa vida. Desejamos que os outros sejam tão felizes como nós naquele momento.
Algo semelhante a isso ocorre quando nos apaixonamos: queremos a companhia do outro e acreditamos que encontramos a felicidade plena.
Porém, com o passar do tempo, algumas vezes deixamos que nosso amor por Deus se esfrie e as coisas ficam meio sem graça, meio mornas… (Ap 3.16). Também no casamento algumas vezes deixamos que o amor se esfrie e as coisas ficam mornas e vão perdendo a graça – então enjoamos! (e, às vezes, vomitamos fora o relacionamento).
O que é preciso para manter a chama do primeiro amor para com Deus? Algumas coisas bem simples das quais descuidamos: ler a Bíblia todos os dias, pois assim vamos conhecendo cada vez mais o coração de Deus e sua vontade para conosco; orar diariamente, pois assim deixamos Deus conhecer nosso coração; por fim, buscar todos os dias proceder de forma justa, ter um coração misericordioso em relação ao próximo e procurar uma atitude de humildade diante de Deus (Mq 6.8).
De igual modo, o que é preciso para manter a chama do primeiro amor para com o cônjuge? Também pequenas coisas das quais descuidamos: ouvir o outro todos os dias, suas necessidades, seus anseios e desejos, pois assim vamos conhecendo o coração do cônjuge mais e mais; manter sempre aberto o canal de comunicação por meio de diálogos fecundos e exposição de sentimentos (positivos e negativos), ampliando a transparência no relacionamento e deixando-nos conhecer tal qual nós somos (não só o que aparentamos ser); e também aprender a ser tolerante com o outro, sabendo que se o outro é imperfeito em algumas áreas, eu também sou em outras e assim posso tratar o outro com a complacência e a justiça com que eu gostaria de ser tratado. Mas para isso é preciso uma boa dose de humildade e reconhecimento de que ‘ainda’ não sou pleno – e o outro percebe isso melhor que eu mesmo.
Por isso o matrimônio é um contínuo “campo de treinamento” para cumprirmos os dois maiores mandamentos – “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22.40).
Por Carlos Catito