Crise vocacional da Igreja

1370

Vivemos uma crise vocacional, uma crise de propósito. Duas das principais razões são a idolatria ao deus dinheiro – procura-se uma profissão mais rentável e não necessariamente a que reflete os talentos e os propósitos de vida que deveriam mover as escolhas – e também o individualismo. E essa crise de propósito se estende também à igreja.

Igreja, do grego Ekklesia, traduz-se como “chamados para fora”. Uma lembrança à última ordenança dada diretamente por Cristo antes de sua ascensão: “Ide por todo mundo e pregai o evangelho […]” (Mc 16.15). É necessário que a Igreja se relacione com a cultura pregando o evangelho do Senhor Jesus e praticando boas obras. Contudo, a dicotomia grega entre “o sagrado e o profano” preencheu o coração da igreja a ponto de criar divisão. Desta forma, sua missão inicial ficou prejudicada.

A Igreja deixou sua preeminente voz ativa na sociedade – basta olhar as grandes contribuições para a vida comunitária que a Igreja teve tanto na sua origem quanto na pós-Reforma – e voltou-se para si mesma. É impressionante como, atualmente, a maioria das programações (eventos, palestras, livros…) são de cristãos para cristãos e não de cristãos tentando alcançar pessoas que ainda não servem a Cristo e dialogar com elas.

Desta forma, duas coisas, principalmente, acontecem em nosso meio:

1. A Igreja nem sempre leva a cabo a atividade de evangelização e missões – o que John Stott diz que deve estar no topo da agenda da igreja1) – com a seriedade e a ênfase que a Bíblia dá;

2. A Igreja se esquece da responsabilidade social cristã e trata atitudes e ações em prol dos direitos humanos e ambientais como se fossem atitudes “mundanas”.

Quando a Igreja perde de vista sua vocação, ela se torna, como disse o pastor Martin Luther King, “[…] um clube social irrelevante com nenhuma importância […]”2. A voz profética é perdida, as boas ações são esquecidas e o testemunho é comprometido.

A crise vocacional da Igreja é uma das principais responsáveis pela letargia do diálogo dela com questões contemporâneas, como justiça social e justiça ambiental. Enquanto não recuperarmos a nossa vocação e missão, estaremos tateando no escuro, nos importando (e brigando) por coisas periféricas e deixando de nos importar com o que verdadeiramente move o coração de Deus, a saber, missões e responsabilidade social/comunitária.

Por Jacira Monteiro 


1. NODA, Jorge; CLAYTON, Joyce Every; BEZERRA, Durvalina (Org.). Chamados por Deus. João Pessoa: Betel Brasileiro Publicações, 2014. p. 48.
2. KING, Martin Luther. Por que não podemos esperar. São Paulo: Faro Editorial, 2020. p.102.

Deixe uma resposta