Não há Deus ali!

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Foto: Reprodução.

No ano 63 a.C., o general romano Pompeu invade Jerusalém e, após meses de cerco contra as muralhas do Templo de Jerusalém, finalmente vence os judeus. Chegara ao fim a era de ouro dos Macabeus e é instaurado o domínio romano sobre a Judéia. Ao entrar no Santo dos Santos do Templo do SENHOR, ele se espanta ao ver que ali não havia imagem alguma. Neste contexto, ele exclama: “Não há Deus ali”. Onde um dia esteve a arca da aliança, símbolo da presença de Deus, não havia nada. Guardado pelo véu do templo do SENHOR, o Deus de Israel, ficava apenas um recinto vazio.

Neste domingo da ressurreição, esta história pode nos faz refletir sobre a nossa fé. Há mesmo um Deus? Temos mesmo alguém no céu que se preocupa conosco? Quantos olham para nossa devoção, nossa santidade, nossos cultos e zombam: “Não há Deus ali”. Ao ler o que os evangelhos dizem sobre a ressurreição, ficamos também chocados com um lugar vazio:

O anjo disse às mulheres: “Não tenham medo! Sei que vocês estão procurando Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Venham ver o lugar onde ele jazia. […] As mulheres saíram depressa do sepulcro, amedrontadas e cheias de alegria, e foram correndo anunciá-lo aos discípulos de Jesus. De repente, Jesus as encontrou e disse: “Salve!” Elas se aproximaram dele, abraçaram-lhe os pés e o adoraram. (Mt 28.5-6,8-9 NVI).

“Ele não está aqui” é a palavra do anjo. Assim como Deus não estava no Santo do Santos, o Filho de Deus não estava na sepultura. Isso porque não há nada que o possa conter (2 Cr 6.18). Não nos falta Deus – nem a nós que cremos, nem a todo o Universo. O Deus que é totalmente Outro está além de sua Criação, porém graciosamente decide com ela se relacionar. A mente incrédula se engana: “Diz o tolo em seu coração: ‘Deus não existe!’” (Sl 53.1 NVI). O coração crente no recôndito de seu quarto pode exclamar: “na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Sl 16.11). O Deus que não pode ser contido se faz presente com sua misericórdia ao lado, dentro e adiante de todo que nele se refugia.

“Ele não está aqui” porque ressuscitou! Muitas são as hipóteses que alguém levantaria diante de um túmulo vazio. Será que o corpo foi roubado? Teria sido apenas um desmaio? Estas e outras teses já foram levantadas por céticos que insistem em negar a ressurreição. Outros negam esta afirmação básica do cristianismo de forma velada. Dizem que Jesus ressuscitou apenas na “memória dos seus discípulos” como que num delírio psicológico. Porém, aquilo que para alguns é fruto de alucinação ou lenda, foi o que motivou os discípulos a proclamarem com poder que “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15.3-4). Como nossos Pais continuamos a afirmar: “Creio… em Jesus Cristo, … o qual … foi crucificado, morto e sepultado; … e ao terceiro dia, ressurgiu dos mortos; … creio no Espírito Santo, na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém.¹”

Ouvir “Ele não está aqui” sempre gera uma reação. Aquelas mulheres foram tomadas por um misto de medo e alegria. Seus corações foram arrebatados porquê de fato creram que Jesus vive. Esta fé possibilita um encontro com Jesus – encontro real, consciente, visível e corpóreo! A fé leva ao relacionamento; o relacionamento leva à adoração (Mt 28.9). De que maneira, a mensagem do Cristo Ressurreto tem mexido conosco? Temos vivido em confiança, comunhão e consagração? Na realidade da cruz e do túmulo vazio devemos, todos os dias, firmar nossa fé e nosso amor!

Pompeu não fez assim. Ele só podia crer no que via. Por isso disse: “não há Deus ali”. Ao dizer com o anjo “Ele não está aqui”, podemos experimentar mais do que podemos ver ou tocar. Ao confiar plenamente no Ressuscitado, podemos andar por fé. Porque o túmulo não o pôde conter, nossa esperança jamais irá morrer. Nossa esperança já venceu a morte.

Pr. Lucas Rangel de Castro Soares


¹Trechos extraídos do Credo Apostólico.

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