Diácono: ser ou estar?

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Tem havido confusão na compreensão bíblica sobre o diaconato (Atos 6.1-7). As igrejas batistas do Brasil se dividem em eleger diáconos e diaconisas por um tempo, e consagrar os diáconos e diaconisas como vitalícios, numa compreensão de que é uma vocação. Paulo ensina que os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis (Romanos 11.29). Pastores e diáconos são os oficiais da igreja, reconhecidos por ela, na percepção e ensino bíblicos, revelados por Deus. Paulo, no texto a seguir, dá orientações quanto ao caráter e exercício desses ministérios (1 Timóteo 3.1-16).

No caso do diácono, a questão mais importante é o ser oficial da igreja, segundo a vontade de Deus, o seu chamado e reconhecimento da comunidade por suas qualificações éticas e seu serviço amoroso e abnegado. A lista proposta pelo apóstolo Paulo quanto às qualidades espirituais e morais do diácono já mencionadas acima revela a seriedade dessa função tão significativa na comunidade eclesiástica.  

Quando se refere ao diácono, a questão do ser significa a vocação, o chamado específico de Deus no contexto da comunidade da fé. O ser diácono aponta para uma convocação do Senhor pessoal e intransferível. Há uma consciência amadurecida da missão de servir em nome do Senhor aos que sofrem, aos órfãos e as viúvas. Há uma extrema relevância em cuidar deles e participar ativamente de suas vidas.  

Por outro lado, estar diácono é uma questão passageira, emocional e revestida de vaidade e projeção do cargo no contexto da igreja local. O fato de estar diácono configura então cargo e não carga. Pódio e não chão, terra, humildade. Significa autopromoção em detrimento da promoção de Cristo Jesus, da Sua glória e Seu modelo de diaconia. Aqueles que estão diáconos não têm convicção de sua chamada ou vocação. Por qualquer motivo deixam o cargo, especialmente quando brigam com o pastor ou não são reconhecidos por algum serviço à igreja. Geralmente estar diácono, sem convicções profundas, traz uma série de situações constrangedoras dentro da Igreja do Senhor, comprometendo o seu crescimento.

O que se deseja enfatizar aqui é a grande relevância do ser diácono, servidor, escravo do Senhor Jesus para abençoar a Sua igreja e agir no mundo. O chamado ao diaconato autêntico, ao ser servo na igreja, significa consciência de sua missão, o despir-se de si mesmo, revestir-se de Cristo Jesus, o viver amorosa e moderadamente, procurando sempre trabalhar para a unidade da comunidade da fé. O ser diácono não tem nada a ver com discórdia, desobediência, meninice ou imaturidade, grande dificuldade de relacionamento, confusão e orgulho. Não centra em cargo, mas em carga. O ser diácono significa ter o mesmo sentimento ou pensamento de humildade que houve em Cristo Jesus, no magnífico texto paulino (Filipenses 2.5-11). O diácono autêntico, consciente do seu chamado para servir em amor, está identificado com Cristo em gênero, número e grau. O Senhor Jesus é o seu modelo de vida autêntica. Por esta razão, ele O segue e O serve às raias da morte. O diácono Estevão amava a Cristo mais do que a si mesmo e foi morto por testemunhar a sua fé (Atos 7.1-60).

A igreja, especialmente em nossos dias, carece de mais diáconos comprometidos com a sua missão de servir à semelhança de Jesus de Nazaré. Diáconos de boa reputação, compassivos, serviçais, íntegros, sinceros, amigos, solidários, ternos, moderadores, mansos, mentores, entusiásticos, amorosos, cheios do Espírito Santo e de sabedoria. Neste tempo tão difícil, cinzento e conturbado, ser diácono se reveste de significado, pois a sua aspiração mais sublime é viver para a glória de Deus (1 Coríntios 10.31).

Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob
Colunista deste Portal 

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