Evangelho e Igreja

1873

“Chegando Jesus à região de Cesaréia de Filipe, perguntou aos seus discípulos: Quem os homens dizem que o Filho do homem é? Eles responderam: Alguns dizem que é João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, Jeremias ou um dos profetas. E vocês? , perguntou ele. Quem vocês dizem que eu sou? Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Respondeu Jesus: Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus. E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la.” (Mateus 16.13-18)

A igreja tem nessas palavras a declaração de sua gênese. Depois de dois milênios, depois de todas as transformações sociais e na própria organização da igreja, o quanto nos mantemos e o quanto nos afastamos desse princípio fundamental de nossa natureza? Considerar isso é importante. Este texto deixa claro três coisas sobre a igreja, sobre o que uma igreja deve ser. Uma igreja é a comunidade das pessoas que sabem quem é Jesus, que compreendem o Evangelho e suas vidas estão e permanentemente estarão afetadas pelo Evangelho. Na medida que somos essa comunidade, percebemos que o Evangelho não é simplesmente uma mensagem. É uma realidade que envolve a igreja, as pessoas, e afeta a vida. A igreja (pessoas) tem um chamado para proclamar o Evangelho e a excelência dessa proclamação está no testemunho dos seus efeitos na vida. Neste sentido, proclamamos pela demonstração de como é uma pessoa alcançada pelo Evangelho. 

Manter-se no Evangelho é um desafio, devemos admitir. Paulo advertiu a igreja da Galácia de que estava se desviando do Evangelho para um outro evangelho. O Evangelho pode revelar-se muito  desafiador e incomodo. Ele fala da graça e não entendemos a graça. Fala do amor e nos pede para amar, sempre e a todos. Inclusive os inimigos. Pede-nos para confiar e nós gostamos de controlar. A lei combina mais conosco do que a Graça, enquadra-se melhor em nossa lógica. Embora seja ela também uma sentença de morte para pecadores como nós, facilmente trocamos olhares com ela. O grande problema do desvio do Evangelho é que isso não significa necessariamente uma piora, segundo nossos padrões. Os gálatas estavam acrescentando a circuncisão e algumas boas práticas judaicas. Que mal haveria nesse aperfeiçoamento? Todo mal. Seria cair da graça! Seria voltar-se para a lei. Desvios desse tipo não parecem desvios, mas são. E há muitas possibilidades de desvios como esse. Um dos sinais de que o desvio está em curso é a diluição do amor, da graça e da misericórdia. Outro é o crescimento do orgulho e da fome por poder. Devemos ter cuidado. Uma igreja que se desvia passa a produzir religiosos com a semente que deveria produzir cristãos. Os efeitos disso não são bons!

Jesus disse que as portas do Hades não se sustentariam diante da Sua igreja. O Hades é representativo do mundo dos mortos. O mundo que não gera vida, que aprisiona, que rouba, mata e destrói. Somente a igreja de Cristo, somente uma comunidade de pessoas apegadas ao Evangelho pode cumprir essa profecia. Uma igreja que seja mais que uma instituição religiosa. Que saiba ler a Bíblia e a vida inspirada pelo mesmo Espírito. Que atentamente avalia-se a si mesma, para não acostumar-se ao que ainda não foi transformado e para resistir a corrupção do  que o Evangelho já transformou. Precisamos nos lembrar de que conhecimento bíblico pode conviver com corações de pedra. Que ser um bom executor de tarefas religiosas não é o mesmo que ser sal e luz como ordenou Jesus. Que tornar-se um discípulo não é ser alguém bem treinando, mas ser alguém que está sendo transformado. Que sigamos firmes no Evangelho. Que sejamos igreja sem nos desviamos para um outro evangelho, que estejamos permanentemente a caminho de ser e fazer o que Jesus disse que seríamos e faríamos.

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