Amanhã…

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Amanhã é uma utopia, um horizonte utópico. Quando ele chega, acaba. Torna-se hoje. E o ontem é sempre inaccessível, uma página virada e que jamais retorna.

Amanhã é um ideal. Como ideal serve para motivar e para forçar a caminhada. Afinal, “amanhã chegarei”; “amanhã conseguirei”; “amanhã vencerei”; “amanhã completarei”.

Amanhã é uma incógnita. Ele pode vir ou não, dependendo de minha situação. Se vivo, ele virá; se morto, não chegará.

Amanhã também é remédio. Quando reconheço que a tarde chega e que a noite logo cobrirá a abóbada celeste de minha vida, posso pensar no amanhã que brotará ao fim da noite, e isso será um bálsamo para a minha amargura. Neste sentido o amanhã consola.

Amanhã é um mistério. O ontem eu já vivi, já conheci. O hoje eu desvendo a cada instante, descobrindo os seus meandros e buscando os seus sabores. Mas o amanhã é encoberto, é terra incógnita, é continente não desbravado. Posso chegar com as caravelas e fincar a bandeira do meu mundo, ou naufragar no mar da viagem e jamais saborear o meu destino.

Amanhã – por ele arvora-se uma revolução, uma batalha, uma guerra. Por ele uma nação soergue a sua cultura, a sua atividade econômica, a sua construção social, a sua ação religiosa. E por ele outros invadem povos, culturas e nações, sorvendo os seus despojos, ajuntando-os para a garantia do seu próprio amanhã. Mas não podem garanti-lo, pois outros povos poderão fazer o mesmo com eles…

Na bíblia o amanhã só pertence a Deus; ao homem apenas  o HOJE; na verdade tão somente o AGORA.

Sobre o amanhã Jesus Cristo assim se expressou sobre o homem que, prudente, achou ter sido sábio, acrescentando celeiros para lavouras prósperas, mas sem se preocupar com o fatal encontro com a morte e com o Criador: Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? (Lc 12:20).

O profeta insta com o povo de Israel, bem no passado, alertando-o para o encontro que teriam com o Criador: Portanto, assim te farei, ó Israel! E porque isso te farei, prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus. (Am 4:12).

A incerteza de um amanhã terreno deveria tirar a nossa arrogância e presunção. Assim se expressa Tiago em sua epístola: Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece. (Tg 4:14)

Jesus Cristo, o Senhor e Salvador, nos aponta o hoje como motivo de ocupação e de gratidão. O pão nosso de cada dia nos dá hoje; (Mt 6:11). Quanto ao amanhã assim Ele nos orientou: Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal (Mt 6:34).

Assim, o amanhã cronológico, que é uma realidade imprevisível, deve dar lugar ao hoje real, colocando-nos na responsabilidade de vivenciá-lo com amor e com responsabilidade.  Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado; (Hb 3:13).

Por fim, não será amanhã o melhor dia para acertar a nossa vida com Deus. Como nos conta o poeta: “Ao findar o labor desta vida, quando a morte ao teu lado chegar, que destino há de ter a tua alma, qual será no futuro o teu lar? Meu amigo, hoje tu tens a escolha: vida ou morte, qual vais aceitar? Amanhã pode ser muito tarde; hoje Cristo te quer libertar!” Ou, como o próprio texto bíblico nos orienta, “Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração” (Hb 3.7-8).

“No céu não estarei amanhã.

Quando a minha hora chegar,

Quando o Senhor me levar,

Ele em Seus braços me tomar,

Em doce amor há de falar:

HOJE mesmo comigo há de estar!”

Pr. Wagner Antônio de Araújo
Colunista deste Portal

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