A nossa fé na Pessoa e Obra de Cristo definirá a nossa postura como cristãos. Será fundamental para o nosso estilo de vida. Sabemos que ao longo dos séculos, especialmente depois do primeiro século, o Senhor Jesus se tornou menor do que o cristianismo institucionalizado. Um cristianismo com um viés legalista e mercantilista ou um cristianismo de mercado, que considera a organização mais importante do que o organismo. Neste mundo pós-moderno o Senhor Jesus se tornou um produto de consumo. Também, uma tábua de salvação de problemas corriqueiros. O Seu nome tem sido citado inadequada e desrespeitosamente. Vivemos um cristianismo mais como sistema religioso do que como estilo de vida, discipulado dinâmico, compromisso com a Pessoa de Cristo e com as Escrituras como fundamento para nossas atitudes e ações. O Cristo concebido hoje é o do imediatismo, da devoção com um foco meramente religioso, de final de semana, do quantitativo, do utilitarismo ou pragmatismo (o resultado é mais importante). Um cristianismo estilista. Uma ênfase muito forte na aparência. Os escribas e fariseus se vestiam de forma elegante. Jesus os condenou, chamando-os de “sepulcros caiados” (Mateus 23.27).
Temos experimentado e visto um cristianismo de interesses pessoais, de amizades com um foco meramente mercantilista. Estamos mais comprometidos com o ter (teologia da prosperidade) do que com o ser (teologia do compromisso com Cristo às raias da morte). Somos conhecidos pelos cursos que temos, nossos títulos, as posições da esposa e dos filhos, nutrimos amizades com um potencial descartável. É impressionante o número de pessoas vazias, ocas, sem conteúdo que entram e saem dos nossos templos. Pessoas sem conhecimento bíblico prático ou vivencial. Que não dão testemunho entusiasta da sua fé em Cristo Jesus. Lideres e membros de um modo geral fazendo apologia de igrejas segmentadas, de classe média, alta e de grupo específicos. Um cristianismo de estratos sociais e da moda. Temos visto que ser evangélico é chique. Para muitos, status. Não há compromisso com a cruz. Um cristianismo de direitos. Um sistema de conchavos seja com clubes de serviço e comprometimentos políticos com benefícios pessoais. Percebemos claramente um sistema religioso em que as pessoas não têm mais tempo para o Senhor, Sua Palavra, Oração e testemunho fidedigno do evangelho de Cristo (Romanos 1.16). Membros de Igrejas que se sentem desconfortáveis diante daqueles que pregam e vivem o evangelho da graça. Parece um contra-censo, mas é a puríssima verdade. É o diagnóstico que Paulo faz para o jovem pastor Timóteo (2 Timóteo 3.1-5). O apóstolo traça aqui as marcas deste tempo tão difícil.
Cristianismo como sistema religioso, que lastima! Que deixa os seus feridos para trás. Que não se importa com os que sofrem, com os simples, os “chatos” e os marginalizados. Reflitamos seriamente sobre esta verdade! Não podemos chamar de cristianismo puro e simples quando temos membros de Igreja vivendo o legalismo (que tem prazer em julgar as pessoas, falar mal dos que erram) ou o liberalismo (frouxidão moral ou falta de compromisso ético). Quando não há uma ética comprometida com as Escrituras. Neste mundo pós-moderno temos observado o pragmatismo (o resultado pelo resultado), a ditadura do sentimento, o isolacionismo, o individualismo e a pratica do agradar ao cliente que entra no templo. Um movimento gospel, voltado para a tietagem e para uma vida de aparência, para as vantagens comerciais, não pode ser chamado de cristianismo. Vivemos como igrejas do medo, dentro de quatro paredes e insensíveis para com o perdido, com o marginalizado, na contramão de tudo o que Jesus viveu e ensinou. Temos aqui uma comunidade fortemente ensimesmada, cuidando dos seus interesses e sua comodidade meramente religiosa.
Mas o Cristo antes deste cristianismo nominal e institucionalizado é o Senhor que nos chama à função diaconal, ao serviço amoroso e centrado nEle. Ele nos convoca ao discipulado, ao compartilhar a fé evangélica, que brota da Palavra de Deus (Romanos 10.17). Uma fé a partir da Sua obra completa na cruz e na ressurreição. Ele chamou doze homens, os treinou para que pregassem o genuíno evangelho da graça. Ele nos chama ao compromisso com a Sua Igreja, coluna e firmeza da verdade. As promessas do Antigo Testamento ou Antigo Pacto apontam para o Senhor Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1.29). O cristianismo preconizado pelo Mestre é o do relacionamento que traz crescimento mútuo, transformação do homem e consequentemente da sociedade, culminando com a Glória de Deus Pai. O Cristo antes deste cristianismo divorciado da vida plena em comunidade nos chama a vivermos um estilo de vida marcado pela obra da cruz, pela humildade, pelo quebrantamento, pelo serviço e pelo amor. Ele nos chama à responsabilidade de sermos “sal da terra e luz do mundo”, a revelarmos os Seus ensinos, a Sua verdade aos homens e em profunda convicção de amor (Mateus 5.13-16). Fomos salvos pela graça mediante a fé para as boas obras, nas quais devemos andar cada dia e com profunda alegria no Espírito Santo (Efésios 2.8-10). Cristãos inconformados com o mundo, mas conformados com toda a vontade de Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor.
O Senhor Jesus antes deste cristianismo antropocêntrico que domina muitas igrejas, nos chama a valorizarmos o nosso próximo. A nos comprometermos com ele. A caminharmos a segunda milha. Somos convidados a repartir o pão, o teto, a abençoar as pessoas a partir do coração centrado nEle. Ele quer que edifiquemos a Sua Igreja como comunidade da aceitação, do perdão e da festa, onde a graça opera de maneira esplêndida. A vida do evangelho traz atitudes e atos do evangelho, dos ensinos do Mestre. O Senhor nos chama à obediência incondicional da Sua Palavra. Devemos, sob a orientação do Espírito Santo, desenvolver dons e talentos a serviço do próximo, da construção de uma comunidade comprometida com o serviço amoroso, autêntico e despido de interesses pessoais. E tudo para a glória de Deus!
A Igreja de Jesus Cristo antes do cristianismo de aparência, do culto sem vida, de atitudes e atos incoerentes e tantos outros sentimentos ruins, nos chama ao cristianismo primitivo caracterizado pelo compromisso com o ensino da Palavra, com a doutrina ortodoxa, com a comunhão, com as orações, com o temor, com os milagres de Jesus, com a unidade, com a liberalidade, com a justiça, com a ajuda mútua, com a missão integral, com a perseverança no meio das grandes tribulações, com a alegria em Deus, com a simplicidade do coração e com o louvor sincero ao Senhor Soberano, nosso Pai (Atos 2.42-47; 4.32-37). Sigamos e sirvamos o Senhor Jesus – Sua vida e Sua obra perfeitas –, para a Glória de Deus Pai, o Autor da nossa salvação!
Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob
Colunista deste Portal