Que espécie de pastores somos?

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Esta tem sido a minha inquietação nestes últimos anos com base na minha experiência de 32 anos de ordenação e as minhas constatações de ministérios por este país.  Posso dizer com segurança que a maioria dos ministérios é sofrível. Parafraseando, “não se faz mais pastores como antigamente”.  Li recentemente uma breve biografia de Aiden Wilson Tozer, e meu coração ficou aquecido com a decisão desse precioso pastor e teólogo (que não tinha formação em seminário) de viver uma vida simples e ensinou isso a sua família e as igrejas que pastoreou. Era um homem descolado de tietagem, fama, dinheiro, propriedades, pódio e outras “vantagens” de uma liderança eclesiástica carnal. Quem se detém nos textos de Tozer pode constatar essa verdade. Mas o que vemos hoje é a dura realidade do pragmatismo, hedonismo e estrelismo na liderança eclesial. A palavra pastor é uma palavra espiritual, revestida de amor, humildade, mansidão, integridade e simplicidade. Ser pastor, como diz a nossa saudosa poetisa Myrtes Mathias, “é oferecer o barquinho da própria vida para Jesus usar para que o mundo sofredor e aflito possa no Pastor divino encontrar a benção de sorrir e cantar”.

DEPENDÊNCIA DE DEUS E INTEGRIDADE

O ministério pastoral é uma atividade de dependência de Deus. É um ofício de fé. Não é uma profissão. Não é mercenarismo. Ser pastor é sofrer por amor ao Supremo Pastor. Submeter-se integralmente a Ele. Andar como Ele andou (1 João 2.6). Amar as pessoas, ter compaixão delas. Viver a simplicidade de Jesus no dia a dia. Ser pastor não combina com vaidade, concorrência, inveja, desafetos, maldade do coração, estrelismo, hipocrisia, busca de cargos, rejeição ao companheiro de ministério, avareza, críticas ferinas, confusão, discórdia, intriga, fofoca e outras práticas negativas que envergonham o ministério tão singular que nos foi outorgado pelo Senhor apenas por graça. O momento que vivemos no país e nas igrejas é muito delicado. Há obreiros envolvidos com política partidária, legislativo e cargos executivos, perdendo a autoridade profética e barateando o ministério. Temos obreiros valorizando mais o método do que o estilo de vida. Olhando mais para as cabeças ou número de membros do que pessoas com as suas múltiplas necessidades. Enfatizando o dízimo em detrimento do valor das pessoas, do seu sofrimento, das suas lutas internas e taras. Muitos reivindicam salários altos, labutam em causa própria e se oferecem para líderes cujas igrejas estão em sucessão.

MUDANISMO E CARÊNCIA DE FRONTEIRAS ÉTICAS

Confesso que tenho me entristecido com a qualidade espiritual dos ministros, que não têm consciência do que seja um obreiro biblicamente fundamentado, um escravo de terceira categoria (1 Coríntios 4.1,2). Falta temor e amor ao Senhor. Muitos não têm buscado a santidade de vida (Hebreus 12.14). O mundanismo já entrou nas casas dos líderes e nas Igrejas. Há muitos obreiros presos pela barriga, pelo sustento em detrimento de valores bíblicos, de posturas éticas seguras. Há ministros nas mãos de diretorias carnais, infames, que desonram o Senhor e envergonham o evangelho de Jesus. Homens e mulheres comprometidos com toda a sorte de erro, encalacrados em negociatas. O certo virou errado. O errado ficou certo. As fronteiras éticas estão sendo eliminadas pelo jeitinho, por pessoas descomprometidas com as Escrituras. Temos visto poucas pessoas serviçais, inclusive líderes. Pastores mais como chefes, executivos, do que como líderes comprometidos com a salvação das pessoas, com o discipulado, com a descentralização do ministério e a obra missionária. Poucos obreiros estão atrelados ao evangelho integral, voltados para os pobres, drogados e com necessidades especiais. Há elementos no ministério de plataforma e não de chão. Estão no pódio, mas não descem no nível do povo. Não andam entre as ovelhas de Jesus.

A BUSCA INTENSA PELA ESPIRITUALIDADE BÍBLICA

Que espécie de pastores somos? Uma espécie de oração, que ama a Palavra de Deus, que lê os clássicos, que aprende com homens e mulheres de Deus do passado, que deixaram suas marcas indeléveis, de valor, que inspiram nossas vidas? Poucos de nós temos lido a Bíblia de maneira devocional. São raros os que lêem biografias de homens e mulheres de Deus que impactaram sua geração. Estamos mais para os computadores e outros instrumentos tecnológicos do que para a solitude, o estar a sós com Deus, deleitando-se na Sua comunhão, meditando na Sua Palavra e refletindo acerca da vida. Estamos acorrentados a um ativismo doentio, que adoece os que estão sob a nossa liderança. Preocupamo-nos mais com a obra de Deus do que com o Deus da obra. Temos nos perdido nos compromissos que não são importantes e nos esquecemos dos urgentes e necessários, de estabelecermos, à luz das Escrituras, as prioridades. Estamos mais voltados para as coisas do que para as pessoas. O profeta Jonas estava mais preocupado com a aboboreira que lhe fazia sombra, do que com os cento e vinte mil ninivitas que não sabiam distinguir entre a mão direita e a esquerda, que estavam perdidos, sem Jeová (Jonas 4.11).        

Que o Pai nos livre de um ministério antropocêntrico e nos conceda um ministério cristocêntrico. Que os nossos ministérios honrem o Salvador. Cumpramos cabalmente a diaconia que recebemos dEle por graça e misericórdia. Que cada um de nós possa dizer como Paulo: “Pela graça de Deus sou o que sou e a Sua graça para comigo não foi ineficaz” (1 Coríntios 15.10). Que cada um de nós seja encontrado fiel. Deus quer que os nossos ministérios O glorifiquem. Sejamos homens irrepreensíveis, sinceros e íntegros no meio de uma geração corrupta e perversa, na qual devemos resplandecer com luzeiros (Filipenses 2.15). Sejamos uma espécie de pastores submissos ao Senhor Jesus Cristo, fazendo toda a Sua vontade. Imitemos o apóstolo Paulo: “Mas em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que eu complete minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus (Atos 20.24). Que espécie de pastores somos? Aquela espécie que tem prazer em fazer a vontade de Deus em Cristo Jesus, nosso Supremo Pastor.

Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob
Colunista deste Portal  

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