Portões ainda fechados na maioria dos estados brasileiros, corredores vazios e salas em silêncio. Esse é o cenário que persiste em se manter em todo o território nacional e em alguns países do mundo. Um quadro que não se repetia desde a Segunda Guerra Mundial, evidenciando o caos instalado por conta do coronavírus.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, (UNESCO), agência da ONU responsável por acompanhar e apoiar a educação, a cultura e a comunicação no mundo, a pandemia da COVID-19 já impactou os estudos de mais de 1,5 bilhão de estudantes em 191 países – o que representa cerca de 91% do total de estudantes no planeta.
O panorama na área da saúde é as- sustador, com a segunda onda provocando a escalada dos números de casos e mortes, mas existe ainda o quadro horripilante que não é medido por indicadores em tempo real: a aprendizagem das crianças e jovens, em um quadro de desigualdade sem tamanho. Enquanto algumas escolas de alguma forma conseguiram implementar o ensino remoto (apesar das dificuldades técnicas e de formação docente), a maioria dos alunos ainda continua sem assistência. Conforme apontam pesquisas recentes, a crise sanitária gerará perdas de aprendizagem significativas e deverá aumentar a evasão escolar e as desigualdades escolares. Uma geração de crianças e jovens tem sido afetada pelos impactos educacionais e sociais da pandemia, infelizmente os mais vulneráveis.
Os estudos sobre os efeitos da pandemia de COVID-19 na Educação, realizados em diversos países, evidenciam perdas significativas de aprendizagem, mesmo com a adoção do ensino remo- to (Azevedo et al., 2020; Engzell, Frey & Verha gen, 2020; Maldonado & De Witte, 2020; Souza et al., 2020; Yarrow, Masood & Afkar, 2020), prejuízos no desenvolvi- mento infantil (López Bóo, Behrman & Vazquez, 2020); existem ainda outras pesquisas que apontam redução dos anos de escolaridade, perdas de rendi- mento futuro e queda na produtividade e no PIB dos países no longo prazo. Sentiremos a onda COVID-19 por um longo período ainda.
Na verdade, nenhuma instituição estava preparada para esse cenário de “guerra” que estamos vivendo, por melhor que estivesse equipada ou que os professores utilizassem mais tecnologia. A maioria dos professores não estudaram ou não estavam preparados para ensinarem à distância. São meses sem a convivência social, sem interação, pressuposto básico da relação de aprendizagem entre sujeito, conhecimento e mediador.
Outro fator que precisamos analisar é a relação das famílias com as escolas. A maioria estava afastada das escolas, e com a realidade das crianças e jovens em casa, muitos perceberam que nada sabiam sobre o aprendizado de seus filhos. Ao terem que acompanhar a rotina de estudos de seus filhos, várias famílias perceberam a necessidade de estarem mais próximos e alinhados com o mate- rial didático, com as metodologias adotadas pelas escolas e professores. Esse processo que ainda vivenciamos tem seus desgastes para ambos os lados. Os familiares e responsáveis se veem sobrecarregados com essa nova demanda combinada ao trabalho em casa ou ao home office, uns cobrando a função docente da escola e outros em pânico, sem saber como atender seus filhos. As escolas ficaram expostas, não que isso seja ruim, com pais e mães assistindo aulas, as instituições passaram a ser mais cobradas em relação ao processo de ensino. Mais tensão no ar.
Isso sem falar em outro problema que no fundo todos temos ciência, mas que foi escancarado pela pandemia, é a desigualdade social de acesso a tecnologias, o que na Educação, causa um abismo entre aqueles que podem dar continuidade ao seu processo de aprendizagem e outros que sequer possuem um dispositivo eletrônico com conexão à internet dentro de casa. O resultado é uma inevitável acentuação da desigualdade de acesso não só ao ensino de qualidade, mas do ensino básico, cau- sando um déficit de aprendizagem ainda maior do que já temos entre alunos da rede pública e da rede particular.
Enfim, é comprovado que as crises globais ao longo da história provocaram grandes inovações e invenções. É certo que vivemos dias complicados, tensos e tristes, mas precisamos usar essa experiência como mola propulsora para revertermos o quadro, para melhorarmos o cenário educacional brasileiro, ampliando o acesso à educação de qualidade para todos. Um país forte economicamente se faz alicerçado em uma educação de qualidade, que gere competências necessárias para o século XXI: adaptação, empatia e criatividade.
Por: Iolene Lima