Teologia da Vacina

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O Brasil, segundo informações, é mundialmente respeitado e admirado pelo plano nacional de imunizações, sendo referência para o mundo como país capaz de imunizar sua população com vacinas contra várias doenças. São, aproximadamente, 27 vacinas disponíveis para a população, como por exemplo, sarampo, caxumba, rubéola, tétano, tuberculose, febre amarela, difteria, coqueluche etc

Não é minha área, mas pelo que li, as vacinas, pelo menos algumas delas são produzidas com os chamados micro-organismos que foram modificados ou atenuados que passam a ser menos prejudiciais e que produzem proteção. Também existem vacinas de micro-organismos inativos ou mortos. Dizem os especialistas, então, que as vacinas podem ser replicantes e não replicantes, ou seja, micro-organismos atenuados ou mortos. Às vezes são produzidas vacinas combinadas, que possuem mais de um micro-organismo. As tecnologias usadas são as mais avançadas possíveis.

Vivemos um tempo ímpar na história. Vivemos um tempo de pandemia, que é o processo quando uma doença se toma global, está presente no mundo todo. Um ano que a COVID-19 tem ceifado vidas, trazendo medo e incertezas. Vivemos a era da informação, da desinformação, e a pior de todas a era da “intoxicação”, que é a intoxicação pela informação maldosa. A população, que sempre foi “especialista” em futebol, política, e tal­ vez alguns outros temas, se tornou neste tempo “especialista” em vírus, imunidade, farmacologia, vacina, enfim. São muitas as informações que nos chegam.

Então, aproveito o momento para também me atrever a escrever sobre vacina, não na condição de epidemiologista, é claro. Muito menos na condição de cientista. O que poderia, talvez me atrever a escrever na condição de político, mas deste mal estou imune. Escrevo, portanto, na condição de observador e de quem gosta de refletir, sempre que possível à luz do que considero mais precioso que é a revelação do Senhor, sua palavra.

O que a vacina nos ensina? Qual é a teologia da vacina?

1. Vacinas nos ensinam a acreditar, a ter esperança, a buscar um porto seguro. Deus é o Senhor da fé e da ciência.

Não podemos pensar que a fé é de Deus e que a ciência é do mal. Ciência é conhecimento. É impressionante como a Bíblia está cheia de indicações da importância do conhecimento. Ainda que teça um conhecimento metafísico, mas não negligencia o conhecimento empírico, até porque este é base tanto para a fé como para ciência. Fé não é negligenciar conhecimento. Sou daquele que, mesmo contrariando a academia científica, entendo que a ciência começa com a fé.

Difícil entender isto porque ao longo dos séculos foi conveniente estabelecer uma peleja forte entre ciência e fé. Como se antagônicas fosse. E não é. A ciência acredita em uma possibilidade e por isto pesquisam. A possibilidade científica é um ato de fé. Porque acreditam, buscam evidências, partem da observação empírica, buscam dados, verificam se são consistentes, analisam, fazem observações, estabelecem uma hipótese, continuam no processo de dados e se são consistentes e aí estabelecem uma teoria. Para mim, os cientistas são mais crédulos do que imaginamos ou admitimos. Deus é o Senhor da fé bem como o Senhor da ciência. A fé vem de Deus, a ciência também. O caminho da ciência é semelhante ao caminho da fé: problema, evidências, postulados, axiomas, perguntas, hipóteses, previsões, teses, regras, leis. Creio não ser interessante nem para a ciência, nem para fé se estranharem. Eu acredito (risos).

2. A vacina em todo este processo científico nos ensina a acreditar. E às vezes, o acreditar é um processo de observação, de zelo, de cuidado. Quantas vezes se torna um processo até mesmo doloroso.

Vacinas nos ensinam que existem ameaças. A vida, por incrível que seja é uma ameaça a própria vida. Viver é estar sob ameaça o tempo todo. São vários os tipos de ameaças. Toda enfermidade que na vida nos deparamos é uma ameaça, é uma mensagem, é um discurso. A enfermidade diz: você é fraco, você vai morrer, você vai deixar este mundo. Aí corremos para o médico, buscamos os medicamentos. Estamos sendo ameaçados. A vacina aguça mais ainda este conhecimento que se transforma em sentimentos e emoções de que existe uma ameaça. Quantos foram dominados, ameaçados e nos deixaram? Na vida é preciso reconhecer, jamais subestimar a realidade das ameaças. Inimigo todos os dias, constantemente. E o pior, como acontece com a COVID-19, sempre estamos diante de inimigos invisíveis, outros são inimigos não perceptíveis e alguns se tornam inimigos disfarçados. Nunca subestime, menospreze os seus inimigos. Paulo diz: “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6.12).

3. Vacinas nos ensinam que precisamos de proteção. Ser ameaçado, estar diante de um inimigo feroz e não buscar ajuda, proteção é insano. Faz parte da preservação da vida. Precisamos, em várias circunstâncias, da ajuda da família, da Igreja, das autoridades, dos profissionais de saúde, da segurança, enfim, ajuda em todo tempo e de forma especializada dependendo da circunstância. O mundo precisa de proteção. A ameaça, até hoje, é real. A doença está aí. É destruidora. Não importa quantos. Não importa. Ela está destruindo sonhos, companhias, famílias. A vacina, sempre foi uma proteção. Você que lê este artigo, com certeza algum dia, em alguma época foi vacinado. Você nunca perguntou quanto tempo levou para fazer a vacina “a” ou “b”. Você até hoje não sabe qual o grau de proteção de uma vacina ou outra que tomou. Você nunca indagou, ao receber a vacina, qual seria a procedência, não é mesmo? O que sabemos, de modo geral, é que a vacina protege. Quantas doenças no mundo foram amenizadas, atenuadas e extintas em função da vacina. Vacina protege. Na vida precisamos de proteção. Vacinas para nos proteger do vírus. Outras vacinas para nos dar proteção contra a gripe, pneumonia, tubérculos, sarampo ou outro ameaçador. A vacina nos ensina que precisamos reconhecer e admitir que precisamos de proteção. Quem é o nosso protetor mor? Se você está sendo ameaçado, se há o perigo eminente para sua vida, seja física ou espiritual, é preciso buscar o socorro do Senhor, a vacina para alma, estar imunizado contra o que pode fazer mal, não ao corpo, mas a alma. O sangue de Jesus Cristo é o imunizante seguro, eficaz e disponível para quem deseja a vida espiritual saudável aqui e na eternidade. Proteja-se com Jesus, porque o vírus do pecado que causou pandemia desde o Éden é destruidor.

4. Vacinas nos ensinam que algo precisa ser feito. Uma das coisas boas de se acompanhar neste tempo de pandemia é o fato de como os cientistas do mundo todo trocaram e trocam informações em prol de vacinas e medicamentos para combater o novo coronavírus. Este vírus que surgiu de forma nova,” arrogante”, desafiando tudo e todos, tem sido um vírus estudado desde 1945, aproximada­ mente. Mas, neste momento, a comunidade científica se uniu e a prova disto é que existem dezenas de vacinas sendo desenvolvidas e algumas em fases bem adiantadas e até sendo aplicadas. Algo precisava ser feito de maneira coerente, salutar, de maneira séria, duradoura. As tecnologias mais avançadas, tempo irrestrito dos bravos cientistas, investi­ mento financeiro como nunca. Tudo isto evidencia a seriedade e a importância. Alguma coisa precisava ser feita. No plano da alma, de maneira graciosa, generosa, perfeita, o Pai preparou e fez tudo. E fez com amor perfeito. O plano de redenção em Cristo Jesus foi muito bem feito. Estabeleceu o melhor para nos imunizar. Deu o seu próprio Filho, Jesus. O apóstolo Pedro diz que foi com sangue precioso. Esta “vacina” é segura, eficaz e dispo­ nível. “Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (I Pe 1.19)

5. Vacinas nos ensinam que o objetivo pode ser desfocado. A falta de foco neste tempo de pandemia e ameaça tem sido algo horrorosa. Pandemia passou a ser um tema político. Agora, vacina passou a ser também um assunto não de saúde, mas de política neste mundo que eu conceituo como sendo um mundo de cegos querendo furar o olho do outro. Parece que o lema tem sido “olho por olho”. Um grande líder mundial, há décadas, teria dito que olho por olho significa que algum dia todos estarão cegos. É impressionante a capacidade dessa gente de fugir do foco. Viver desfocado sempre será um perigo em qualquer área da vida. Pior quando nosso foco deixa de ser o Senhor da vida. Quando celebramos as curas da COVID, na verdade, celebramos o autor da vida. Quando registramos o cuidado para que não haja contaminação, celebramos o Senhor do Cuidado. Celebramos o Senhor da proteção. Quando estamos diante de medicamentos e da esperada vacina, não celebramos este ou aquele instituto. Este ou aquele país. Reconhecemos os envolvidos, mas celebramos Àquele que está nos permitindo ter a vacina. Como disse o salmista, se não fosse o Senhor que tem estado ao nosso lado o que seria de nós, não é verdade? “Se não fora o SENHOR, que esteve ao nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós… “(S1124.2).

6. Vacinas nos ensinam que estar imunizado não significa que não seremos atacados. Esperamos e queremos a vacina contra a COVID, o que não significa que termos o imunizante, seja qual for, estaremos livres dos ataques. A vacina nos prepara para que o vírus encontre resistência. Mas os ataques, até que o vírus esteja exterminado, sempre existirão. Alguns poderão ter, inclusive, alguns sintomas, mesmo que enfraquecidos. Va­cina contra o vírus sim, mas não contra o ataque do vírus. A teologia da vacina nos ensina, portanto, que não estamos imunes dos ataques do inimigo sobre nossas vidas. Nossa vida com Cristo nos imunizou de toda condenação do pecado, mas não da presença, força, influência do pecado. Mas, condenação, nunca mais! Então, é preciso estar alerta, ser cuida­ doso, não negligente, não chamativo ao vírus. A Bíblia diz: “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (I Pe 5.8).

Neste tempo, que mais se fala em vacina do que qualquer outra coisa, alguns sim outros não; alguns com verdade, outros com mentiras; alguns aplaudem, outros vaiam. Neste tem po em que o mundo já recebe o imunizante e quan­do aguardamos com esperança e fé a evidência da ciência para proteção da mais terrível ameaça neste tempo, quando grande parte da população espera a vacina, aprendamos com a vacina, sua teologia reflexiva e prática. Que venha a tal esperada vacina e nunca abandonemos “sua” teologia.

Pr. Hudson Galdino da Silva
Segunda Igreja Batista em Cabo Frio – RJ (Extraído do Jornal Batista)

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